ONODA HIRO - NINJUTSU NA 2º GUERRA MUNDIAL.

O uso do Ninjutsu como forma de espionagem pelo estado japonês só reaparece nos eventos ocorridos um pouco antes e durante a IIª Guerra Mundial. No ano de 1926 faleceu o imperador Taisho e subiu ao trono o príncipe Hiroito. Com isso cresceram os movimentos conservadores e militares dentro da politica japonesa.
Em setembro de 1931, forças Ninja pertencentes ao exército imperial mandaram pelos ares a ferrovia Sul – Manchuriana, na China. Foi o inicio do incidente japonês com os chineses que culminou com a invasão da China pelos japoneses imperialistas.

O incidente atingiu maiores proporções no ano de 1937, quando a invasão japonesa chega até as portas de Pequim, forçando o então governante o General Chang Kai Chec a bater em retirada para as províncias afastadas.
A atividade Ninja nesta época era intensa. Muitos mestres de Ninjutsu participaram das campanhas na China, normalmente como espiões e guarda-costas de autoridades chinesas e japonesas. As informações obtidas pelos espiões versavam sobre o material bélico inimigo, local de provisões e reabastecimentos, movimentação de tropas entre outros. Em 1941, o Japão efetua o ataque à esquadra americana em Pearl Harbor e é declarada a guerra entre o Japão e o Estados Unidos.


Durante o inicio da IIª Guerra Mundial, alguns historiadores relatam que Seiko Fujita teria treinado um batalhão de guerreiros Ninja de mais de 2.500 homens que efetuavam uma guerra de guerrilhas na selva de Burma e no Pacífico Sul. Sua missão era obter informações sobre o inimigo, matar o máximo de homens possíveis e sabotar os preparativos para invasões. Depois de 04 anos de guerra, somente 14 homens deste batalhão retornaram com vida.
Um emprego do ninjutsu durante a guerra é revelado na pessoa de Onoda Hiro. Nascido em Wakayama em 1922, praticou Kenjutsu quando jovem, alcançando o Chuden Menkyo. Em 1942 foi convocado pelo exército e serviu inicialmente no 61º Regimento de infantaria de Wakayama. Tendo demonstrado grande aptidão marcial, foi enviado para escola de espionagem de Nakano, onde estudou o Ninjutsu, aprendeu a estratégia marcial tendo como base o Bansenshukai, além de outras disciplinas como psicologia, sociologia, criminologia, eletrônica, criptografia e bacteriologia, entre outros assuntos.

Foi em dezembro de 1944 que o Tenente Onoda foi enviado com seu grupo ao Quartel General Japonês nas Filipinas. Ali o seu grupo recebeu as seguintes ordens: Estabelecer uma base na Ilha de Lupang para atividades de inteligência e resistência. Comandar a partir dali ações de guerrilha contra o inimigo que se aproximava, fazendo infiltrações nas ilhas próximas, se necessário. Manter a base operacional, mesmo na ausência de contato com o alto comando japonês.

Assim, estabelecido seu posto, o grupo do Tenente Onoda iniciou suas atividades de resistência, enfrentando o inimigo sempre que este aparecia. Em agosto de 1945 o Japão se rendeu e muitos soldados japoneses das ilhas do Pacífico começaram a voltar para casa. Não foi o caso do grupo do Tenente Onoda que permaneceu na ilha, não acreditando que a guerra havia acabado.
Eles consideravam as transmissões de rádio informando o fim da guerra como propaganda do inimigo, com o objetivo de localizá-los e destruí-los. Permaneceram na ilha por 30 anos, obedecendo pacientemente às ordens recebidas, porque sua missão era a de nunca abandonarem os seus postos.


Um dos integrantes do grupo, de nome Akatsu, em 1949 decidiu se render e saiu da selva. Interrogado pelas autoridades Filipinas e Japonesas, informou que havia ainda três soldados do grupo original ainda vivo, entre eles o Tenente Onoda.

Em 1952 um repórter do Jornal Asahi Shinbun de nome Tsuji Yutaka resolveu entrar na selva e procurar o grupo. Usando de um megafone, peregrinou sem sucesso durante dias gritando que a guerra havia acabado e que eles deviam sair da selva. Todas as tentativas falharam. Em 1972 as forças Filipinas decidiram adentrar na selva e retirá-los à força se preciso. Muitos soldados Filipinos foram mortos, até que conseguiram abater dois soldados japoneses do grupo do Tenente Onoda. Este, determinado, nunca se entregou. Em 1973 o governo japonês decidiu enviar uma delegação composta por seu pai e seu irmão para procurá-los e tirá-lo da selva, jogando panfletos com uma carta escrita e assinada. Ele ainda acreditava que tudo não passava de um truque inimigo para eliminá-lo.

No ano de 1974 um turista japonês de nome Suzuki foi surpreendido na praia por um soldado que saindo dentre as árvores perguntou se ele havia sido enviado pelo governo japonês. O turista respondeu que ele estava somente de férias e que a guerra havia acabado há quase 30 anos. Ele perguntou se Hiro Onoda desejava voltar ao Japão com ele. A resposta foi clara: - Não posso, estou compromissado com minhas ordens. Eu devo receber uma ordem oficial e formal para desobrigar-me do meu dever.”


O governo japonês então conseguiu localizar o comandante Taniguchi, que havia sido um dos responsáveis pelo quartel japonês nas Filipinas durante a guerra, e o enviou para a Ilha de Lupang com o objetivo de destituir Hiro Onoda de sua missão. Encontrando-o na selva determinou que este se rendesse, dizendo-lhe que sua missão havia sido magistralmente cumprida, o que foi aceito pelo bravo guerreiro. Entregou sua espada então a o presidente das Filipinas, Ferdinando Marcos, que a recebeu como um presente.

Hiro Onoda foi recebido no Japão em 12 de março de 1974, recepcionado com honra pelo Primeiro Ministro do governo japonês. Antes de participar de uma reunião com o imperador e seu ministro, decidiu comparecer as tumbas de seus companheiros que haviam perecido na selva. Ele foi agraciado pelo governo japonês com um prêmio de 1 milhão de yens.

Usando este recurso, Hiro Onoda imigrou para o Brasil, tendo adquirido uma fazenda no centro-oeste brasileiro. Durante 10 anos trabalhou muito, conseguindo recuperar todo o dinheiro e devolvido integralmente ao governo japonês, que o doou ao Templo Yasukuni, em homenagem a todos os que combateram durante a guerra. Assim, Hiro Onoda é um grande exemplo não somente do Ninjutsu, mas principalmente do caráter de um verdadeiro artista marcial, fiel aos seus princípios e determinações.

Com o fim da IIª Guerra Mundial, as atividades ninja novamente diluíram-se nas sombras e só ressurgiram novamente sob uma nova ótica, uma forma de utilização e objetivo voltada não mais para a guerra, mas para o desenvolvimento pessoal e manutenção das tradições marciais do Japão.

  • Referência Bibliográfica:
    Müller R. Ninjutsu. A ARTE DA GUERRA DAS SOMBRAS. São Paulo: Ed. Daemon; 2006. P 69 – 72.

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