UOL ESPORTES - VISITA A HOSHO RYU NINPO NINJUTSU E FAZ ENTREVISTA COM O SENSEI CÍCERO MELO
Escola de ninjas em SP lida com clichês e atrai interesse de policiais e lutadores de MMA16/10/2012 - 06h00 - Bruno Freitas - Do UOL, em São Paulo
O cinema nos conta há décadas que os ninjas são uma espécie de máquinas de combate, donos de um repertório vasto de conhecimento de ataque e preservação, uma espécie de guerreiro quase místico. Há quem não saiba, mas eles existem de verdade, porém sem muitos dos clichês dos filmes de ação. São seguidores da tradicional filosofia japonesa do ninjutsu, que tem atraído interessados vindos da polícia e do MMA em seus núcleos de atuação no Brasil.
O UOL Esporte visitou uma escola de ninjutsu na Zona Leste de São Paulo. Dentro da Hosho Ryu Ninpo, a preparação dos ninjas dispensa a imagem tradicional com o capuz e as estrelas de metal cortando o ar. A arte marcial busca o domínio de técnicas de defesa pessoal e, apesar de ensinar o manuseio de armas letais, orienta seus praticantes a adotarem a não-violência fora das salas de aula.
"Aconselho o meu aluno em se defender em caso de extrema necessidade, em que a sua vida, ou a vida de quem ele ama, esteja envolvida", diz o mestre sensei Cicero Melo, responsável pela escola em São Paulo. "Mas ele não pode esquecer que é um praticamente de ninjutsu, que ele tem conhecimento marcial. Ele não pode deixar de ser vítima e passar a ser o agressor. Tudo tem que ser feito de modo prudente para defender a sua integridade, jamais para promover a violência", acrescenta.
Lidar com os clichês faz parte do trabalho dos mestres de orientação. O capuz do ninja fica preso na cintura do aluno durante a aula na academia, e as estrelas expostas em exibição apenas na parede. Os objetos clássicos do visual ninja entram em ação apenas nos treinos externos, em ocasiões especiais.
"O ninjutsu é muito procurado por conta disso. Tem técnicas de abordagem, técnicas de infiltração, de preparação, de entrada e saída, código de sinais, treinamento no escuro. E muitas forças de segurança pública acabam utilizando o ninjutsu para poder valorizar o seu desenvolvimento", diz o ninja brasileiro.
Com experiência de intercâmbios internacionais, o Sensei Cicero Melo sabe que parte da filosofia ninjutsu ajuda a treinar homens de forças de segurança ao redor do mundo, como no exército japonês. No Brasil, o interesse parte de oficiais em preparação, na procura pelo conhecimento técnico por iniciativa própria.
"Eu já treinei pessoas que estavam se preparando para prestar a prova da Polícia Federal. Alguns já passaram na prova e tinham que apresentar um trabalho de defesa pessoal em Brasília. Eu treinei essas pessoas com base no edital deles. Muitos profissionais da segurança vêm nos procurar por causa dessa amplitude que o ninjutsu em a oferecer."
A mesma linha de raciocínio, de busca pela perfeição de combate, vale para os atletas do mundo do MMA. Alguns praticantes das artes marciais mistas têm recorrido ao aprendizado ninja para, quem sabe, cruzar a última fronteira de conhecimento das lutas.
"Já teve algumas pessoas que vieram nos procurar. Mas o ninjutsu é diferente das outras artes marciais por não ser uma arte competitiva. Não existe competição de ninjutsu. O ninja luta para defender a sua honra, a sua família. Ele não luta pensando em troféus, pensando em adornos, pensando em méritos. Luta por seu orgulho. Mas já teve algumas pessoas que vieram nos procurar porque o ninjutsu é uma arte completa", declara o sensei. "Tem tudo a oferecer para esse público", completa.
TREINOS EM ESPAÇO ABERTO PODEM DURAR ATÉ 24 HORAS
Se no espaço convencional de aula os ninjas em preparação encontram algumas restrições técnicas, em campo aberto a filosofia flerta com sua plenitude. Nesta circunstância, todo o conceito de infiltração, tomada de base inimiga, camuflagem e manipulação de visão do oponente pode ser testado.
Nas aulas externas, os alunos da escola Hosho Ryu Ninpo são levados para sítios, em atividades que podem ter a duração ininterrupta de até 24 horas. No treinamento são utilizadas as armas tradicionais, o capuz e a fumaça que proporciona ao ninja a conhecida técnica de "sair de cena". Os praticantes também são instruídos em situações de sobrevivência, na necessidade de confundirem seus corpos e roupas com o ambiente.
NINJUTSU INSPIROU CRIADOR DO CLÁSSICO "O GRANDE DRAGÃO BRANCO"
O norte-americano Frank Dux é criador de uma das vertentes ocidentais do ninjutsu. Foi inspirado em sua vida e lendas [a veracidade de suas histórias são contestadas] que nasceu o clássico do cinema de ação "O Grande Dragão Branco", filme de 1988 que lançou o belga Jean-Claude Van Damme ao estrelato internacional.
Dux ajudou a escrever e coreografar a obra, e o personagem principal interpretado por Van Damme ainda levou o seu nome. Na cena final, o protagonista enfrenta o temido e desleal Chong Li na decisão de um torneio clandestino na Ásia, em uma das sequências de lutas mais cultuadas do cinema.
Recentemente a escola do mestre Cicero Melo em São Paulo recebeu um mexicano seguidor do ninjutsu de Frank Dux, em intercâmbio internacional envolvendo outras tendências estrangeiras da arte marcial.
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